domingo, 4 de novembro de 2012

Indulgências



Pra falar das indulgências eu precisaria escrever um livro inteiro, mas vou tentar escrever um pouco e deixar aqui uma bibliografia básica para ser consultada que é o Catecismo da Igreja Católica a partir do número 1471 e seguintes, ali você vê uma tratativa sistemática do que seja a doutrina das indulgências.

Para entender o que é indulgência nós precisamos entender uma outra coisa antes, que e a pena temporal, então vou explicar pra você um pouco através da história da Igreja, fica mais fácil para você entender, hoje em dia nós temos a confissão, e através da confissão você recebe o perdão dos seus pecados e a penitência que o padre lhe dá para que você cumpra, mas não foi sempre assim, houve na história da Igreja outra modalidade de se administrar o sacramento da penitência, como era, a pessoa ia até o sacerdote ou até o bispo, confessava o seu pecado recebia um a penitência, que deveria cumprir, e só depois de cumprir essa penitência, que muitas vezes era longa, é que a pessoa podia ser readmitida à comunhão na Igreja, com a absolvição, então veja, nós hoje em dia temos uma inversão das coisas, temos a confissão, imposição da penitência, mas não a realização dela ainda, e a absolvição, depois o fiel vai pra casa e realiza a penitência que lhe foi imposta.

Está era a prática da Igreja antiga: a pessoa primeiro precisava fazer penitência para depois receber a absolvição, por que isso? Deus não perdoa os pecados de graça? Jesus não já pagou meu pecado na cruz? Sim, Deus perdoa o pecado de graça, mas a penitência não é pra pagar os pecados, a penitência é para resolver os problemas que eu criei com meus pecados, aqui que está a diferença, é aquilo que na teologia é chamado de pena eterna e pena temporal, qual a diferença? Quando você peca você ofendeu a Deus, e por isso você mereceu o inferno, o inferno chama-se a pena eterna, o padre absolve você e por isso você não precisou pagar nada por essa absolvição, por que? porque essa salvação eterna ela é completamente de graça, porém, existe uma coisa que você nota em você, e ai você não precisa acreditar na doutrina da Igreja , não precisa acreditar em mim, em nada, basta você olhar dentro de você, mesmo depois de absolvido os seus pecados, você continua com uma tendência para o mal, mesmo depois que você recebeu o perdão você continua com aquela inclinação para a maldade, por que? bom, a gente diz no ditado popular que é o cachimbo que entorta a boca, ou seja, você vai fazendo aquele pecado e aquilo vai viciando você, fazendo que você fique cada vez mais inclinado para o pecado, isso a absolvição não resolve, isso é algo que você deve resolver através da penitência.

É assim, que na história da Igreja, no início, essa questão da penitência sempre foi levada muito a sério, por era visível que: é verdade, pelo pecado me tornei uma pessoa pior, então, a penitência não é uma imposição injusta do padre, é algo necessário para mim, é uma bondade de Deus, é uma coisa boa e bonita, porém até aqui não falamos de indulgência, como é que surgiram as indulgências dentro da Igreja, aconteceu o seguinte:

Na época das perseguições muitas pessoas que ao invés de ser fiel a Jesus terminou traindo a Jesus e a Igreja, imagine que houvesse uma "blitz" dos soldados romanos, e de repente eles entram numa comunidade cristã e levam para "a delegacia", aqui adaptando a linguagem para nossa época, aquele grupo de cristãos, desse grupo de cristãos alguns professam a sua fé em Jesus Cristo e por isso são condenados, jogados no calabouço e por isso serão martirizados. Outros, na hora "do vamos ver", "amarelaram", foram covardes, negaram a Jesus Cristo e resolveram oferecer sacrifício aos ídolos, aqui nós temos então duas situações, cristãos que irão viver um martírio heroico, irão pagar uma penitência enorme, quando na verdade não tiveram pecados enormes, e do outro lado cristãos que traíram a Igreja, que traíram Jesus, acontecia que muitas vezes os cristãos traidores se arrependiam e iam até o bispo e diziam: Seu bispo eu trai Jesus, perdão, foi uma fraqueza, eu quero pedir ao senhor perdão do meu pecado, o bispo então impunha uma penitência para aquele cristão que havia caído e se converteu a penitência as vezes, ela durava alguns anos, durante anos essa pessoa deveria viver sem carne, dormindo no chão, quando fosse a Igreja ele precisaria ficar no fundo da Igreja de joelhos, batendo no peito e pedindo perdão, eram penitências desse tipo, bastante sérias, bastante graves.

Pois bem, nesse contexto aconteceu uma história de amor, alguns desses mártires que iam morrem, derramar o seu sangue por amor a Cristo, começaram a escrever as chamadas cartas de paz, o que era uma carta de paz, o mártir ele escrevia uma carta para o bispo, e dizia: senhor bispo, eu vou derramar o meu sangue, eu vou morrer por amor a Cristo, e isso e uma penitência enorme, eu peço ao senhor que o senhor receba esta penitência que eu vou fazer e aplique para "fulano", porque, coitadinho, ele vai ter que ficar dez anos fazendo penitência, então, o meu derramamento do sangue sirva para ele, isto era indulgência, ou seja, a aplicação dos méritos desses Santos mártires, o méritos desses membros da Igreja maravilhosos, para ajudar esses outros membros da Igreja "menos maravilhosos", esses outros membros da Igreja pecadores, que precisariam fazer tantos e tantos anos de penitência para se livrar das consequências do seu pecado, então veja, aqui esta realidade, a realidade da indulgência que diz: nós somos um só corpo, nós somos membros do corpo de Cristo, por isso, você não vai entender nunca a indulgência se você não crer na comunhão dos Santos, se você não crer que nós somos um só corpo em Cristo Jesus e o bem que eu faço afeta positivamente as outras pessoas, ou seja, a penitência que eu faço pode afetar outras pessoas que não fazem penitência, que a oração que eu faço pode afetar outras pessoas que não fazem oração, Nossa Senhora de Fátima pediu isso aos três pastorinhos, que eles se oferecessem pelos pecados, que fizessem penitência pela salvação da alma dos pecadores, como é isso possível? Só é possível se nós cremos que existe uma realidade de comunhão, "vasos intercomunicantes" na Igreja onde não é somente os pecados dos outros que me afeta, mas também as coisas boas e bonitas que eu faço que vão afetando os outros, e transformando os outros em pessoas melhores.

Se nós cremos nisso, então nós podemos entender como é que a Igreja administra as indulgências, ou seja, a disciplina das indulgências é uma forma da Igreja distribuir esta graça, da penitência, dos méritos, das coisas boas e bonitas que os seus membros Santos realizaram, vamos recordar que a Igreja é um só corpo, então imagine quantos méritos e quantas maravilhas já foram adquiridos por Jesus que morreu na cruz evidente, pela Virgem Maria, que nunca pecou, pelos Santos, que morreram de forma heroica, pois bem, esse é um tesouro espiritual da Igreja, e esse tesouro espiritual é aplicado a você através da indulgência, mas ou menos essa é a ideia, ou seja, com a confissão você recebe a absolvição de seus pecados e ali foi perdoada a pena eterna, o inferno, você morrendo não vai para o inferno, mas não foi perdoada a pena temporal, isso quer dizer que se você morrer nesses estado você não vai para o inferno, mas também vai ficar um tempo no purgatório até que você resolva o problema da pena temporal, resolva o problema dessa maldade que você criou no seu coração através do seu pecado, porque você não pode entrar com um coração desses no céu, então vejam como está tudo interconectado, ou seja, a penitência ela está ligada com a indulgência, e para entender a indulgência eu tenho que entender a comunhão dos Santos, e pra entender a comunhão dos Santos eu tenho que entender que existe pena temporal e que existe purgatório.
Aí está, parece uma grande confusão mas é uma coisa muito simples, o simples é o seguinte, Deus é bom e misericordioso você não precisa pagar por nada, só que o seu pecado, que você não precisa pagar, deixou consequências no seu coração, você precisa fazer penitência, mas você não está sozinho, a Igreja está com você, somos um só corpo, fazemos penitência juntos, então a indulgência passa para você, isto significa que nós também podemos ajudar as pessoas que estão lá no purgatório, as indulgência servem também para eles, ou seja, aquilo que eu faço aqui, eu posso ajudar essas pessoas porque nós somos um só corpo, eles não pagaram aqui na terra o que precisavam pagar da pena temporal? Eu posso ir pagando para eles, e a Igreja pode me ajudar com as indulgências para que eles possam receber muito mais do que aquilo que eu fiz com as minha sobras indulgenciadas, por exemplo, no dia 02 de novembro, quando nós temos a indulgência aplica aos fiéis defuntos, falecidos, as pessoas que estão no purgatório, como é que eu faço? Bom, eu faço uma visita ao cemitério, que é uma obra bastante simples, depois rezo pelas intensões do Papa, depois comungo, confesso, e então a Igreja diz que essa sua ação aplica àquelas pessoas que estão no purgatório uma indulgência plenária, ou seja, elas seria libertadas do purgatório, se você obteve essa indulgência.

A indulgência para nós é uma boa notícias, é uma realidade da qual nós não deveríamos nos livrar, tem gente que não acredita em indulgências porque acha que eles estão ligadas a uma mentalidade anti-ecumênica, porque houve a briga com os protestantes no século XVI a respeito das indulgências, nada disso justifica, se os membros da Igreja cometeu algum erro no passado ao aplicar a sua doutrina, não pode fazer que nós queiramos mudar a doutrina, se houve pessoas que abusaram das indulgência, querendo vender as indulgências, coisas que é proibido, sempre foi e sempre será, então, se houve pessoas que abusaram da disciplina eclesiástica não quer dizer que eu deva abolir a doutrina das indulgências, veja, se uma pessoa trai a sua esposa eu não devo abolir o matrimônio por isso, mas devo ao contrário, crer ainda mais no matrimônio para que esse casal se reconcilie cada vez mais, também a indulgência, se algum membro da Igreja, historicamente, abusou da indulgência nós não devemos deixar de usar esse tesouro, que é maravilhoso, saber que eu não estou sozinho lutando contra o meu pecado, eu tenho a Igreja inteira que me apoia e como mãe indulgente me ajuda a vencer e a ser melhor. 

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