quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Sola scriptura: a construção e a transmissão do texto bíblico

Quero tecer algumas considerações sobre o princípio da sola scriptura e a construção e transmissão do texto bíblico.

Até onde sei, o princípio em questão não nega totalmente a Tradição; ele diz somente que a Bíblia tem primazia sobre a própria Tradição e que havendo divergências entre ambas, vale o que está escrito nas Escrituras.

No entanto, outros movimentos protestantes, considerados, via de regra, mais radicais criaram o princípio da Nuda scriptura, negando completamente a Tradição e considerando que a Bíblia pode ser interpretada por si só.

Falemos primeiramente da Nuda scriptura. Me desculpem os que pensam o contrário, mas tal princípio é insustentável. Um texto para ser bem interpretado precisa ser considerado em seu contexto. Mesmo que se acredite que as Escrituras sejam divinamente inspiradas, não há como negar que elas foram compostas utilizando uma linguagem humana, inserida na história. Além do mais, a Tradição é responsável pela conservação, compilação e transmissão das Escrituras. Sem a Tradição, não haveria Novo Testamento. Às vezes tenho a impressão de que querem que eu acredite que alguém, no séc. I, reuniu o Novo Testamento num códice, entrou numa máquina do tempo e viajou até o séc. XVI, entregando o códice em questão aos reformadores. Ora, sabe- se que o fragmento mais antigo conhecido do Novo Testamento, um extrato do Evangelho de João - pertencente à coleção de Papiros Rylands - data provavelmente do início do séc. II. Não há manuscritos neo-testamentário mais antigos do que isso. Sabe-se, por exemplo, que no início do séc. II, a Igreja primitiva já havia se organizado segundo a hierarquia episcopal. De qualquer forma, os códices completos de textos bíblicos mais antigos datam todos do séc. IV - como os códices Sinaiticus e Vaticanus, por exemplo - época em que, sem dúvida, a Igreja já estava hierarquicamente e dogmaticamente organizada. Esses códices são ferramentas indispensáveis para o estabelecimento do texto grego do Novo Testamento. E esses códices do séc. IV foram, obviamente, conservados pela tradição das Igrejas cristãs primitivas. Se não houvesse Tradição, esses textos não teriam sido conservados. Por isso, caro leitor do blog, é sempre bom perguntar: a tradução do seu Novo Testamento se baseia em qual texto Grego? Em qual códice?

No mais, sem a Tradição nós não seriamos capazes nem de afirmar quem são os autores dos Evangelhos, por exemplo, já que não há menção alguma de seus autores nos próprios textos. Os títulos que atribuem as autorias a Mateus, Marcos, Lucas e João são obra de editores da antiguidade tardia, que se basearam, obviamente, na Tradição para adotar tal atribuição.

Em relação ao princípio da Sola scriptura, gostaria apenas de dizer que não me lembro de casos em que a Tradição contradiga as Escrituras. Muito pelo contrário, a Tradição, habitualmente, elucida as Escrituras, interpretando-a e explicando por meio de pessoas que estavam mais próximas do contexto de composição dos próprios textos bíblicos. No mais, é intrigante perceber que o princípio em questão acaba muitas vezes por afastar acadêmicos protestantes do estudo da Patrologia. Mesmo que de maneira inconsciente, muitos estudiosos protestantes, talvez influenciados pela Sola scriptura, ignoram quase que completamente a literatura cristã antiga que não faz parte das Escrituras.

Organização episcopal


É interessante perceber que desde muito cedo a organização episcopal esteve presente na Igreja. Alguns dos mais antigos textos cristãos que chegaram até nós demonstram que muitas comunidades já possuíam episkopoi (bispo em grego) em seus comandos.

A Epístola de Clemente aos Coríntios, as Epístolas de Inácio de Antioquia e a Epístola de Policarpo, todas compostas antes de 115 nos fornecem tais evidências.

Todos estes textos fazem parte da chamada literatura sub-apostólica, literatura esta que foi produzida na geração seguinte à apostólica; só os textos do Novo Testamento são mais antigos que a literatura sub-apostólica.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Batismo de Crianças




“Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (São João 3,5).



"Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas" (Lc 18,16).

O Protestantismo durante a Reforma no século XV inventou que o Batismo não pode ser ministrado às crianças. Esta novidade foi introduzida pelos Anabatistas. Note que os primeros protestantes (Luteranos, Presbiterianos, Calvinista e Anglicanos), guardam até hoje o batismo de crianças.

A Sagrada Escritura
A Sagrada Escritura cita vários exemplos de pagãos que professaram a fé cristã e que foram batizados "com toda a sua casa". A palavra "casa" ("domus", em latim; "oikos", em grego) designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças:

"Disse-lhes Pedro: 'Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo. A promessa diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos que estão longe - a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar'." (Atos 2,38-39)

"E uma certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. E, depois que foi batizada, ela e a sua casa rogou-nos dizendo: 'Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e ficai ali'. E nos constrangeu a isso." (At 16,14-15)

"Tomando-os o carcereiro consigo naquela mesma noite, lavou-lhes os vergões; então logo foi batizado, ele e todos os seus." (At 16,33)

"Crispo, principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; e muitos dos coríntios, ouvindo-o, creram e foram batizados." (At 18,8)

"Batizei também a família de Estéfanas; além destes, não sei se batizei algum outro." (1Cor 1,16)

Argumentos Protestantes
Os protestantes costumam argumentar dizendo que Jesus foi apresentado no tempo quando criança e somente foi batizado na idade adulta, e por isto eles apresentam suas crianças no altar e batizam os adultos. Só que se esquecem que o Batismo faz parte do ministério de Jesus, que se iniciou com 30 anos. Como Jesus poderia ser batizado quando criança se ainda seu ministério nem havia iniciado? Os ritos da lei mosaica só deixariam de valer após a ressurreição de Cristo (cf. Mt 26,61). Por isto, Jesus foi apresentado no tempo quando criança, pois a lei mosaica ainda valia e o batismo ainda não.

A circuncisão que era o sinal da iniciação do Judeu na vida religiosa, era realizado também nas crianças. A circuncisão (sinal da Antiga Aliança), foi substituída pela Batismo (Sinal da Nova Aliança). Desta forma o batismo também pode ser ministrado às crianças:

"Nele também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados com ele no batismo, nele também ressurgistes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos." (Col 2,11-12)

Através do batismo o Espírito Santo nos dá um novo nascimento, nos regenerando. Por isto, as crianças também devem ser batizadas, pois já nascem pecadores. "Todos pecaram" em razão do pecado de Adão, inclusive as crianças:

"Pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3,23)

"Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (Rm 5,12)

"Certamente em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu a minha mãe." (Sl 51,5)

Outro argumento protestante é que as crianças não podem crer, e que o batismo deve ser um ato consciente de quem está sendo batizado. Como já dissemos em artigo anterior, o batismo regenera o homem. Por acaso se um filho de um protestante estiver doente, seu pai vai esperar que ele cresça para escolher tomar a vacina, ou vai lhe dar a vacina? Todo bom pai faria daria logo a vacina. O mesmo acontece com o batismo. Mas de qualquer forma, vamos mostrar pela Sagrada Escritura que as crianças podem crer:

"E quem escandalizar a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado ao mar" (Mc 9,42)

"Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo. Exclamou ela em alta voz: 'Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Ao chegar-me aos ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.'" (Lc 1,41-44)

"Contudo, tu me tiraste do ventre; tu me preservaste, estando eu ainda aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre da minha mãe." (Sl 22,9-10)

Testemunhos Primitivos
Nosso Senhor Jesus Cristo garantiu que a Igreja nunca pregaria o erro (cf. Mt 16,18), e garantiu a Sua Assistência Divina à Igreja todos os dias até o final dos tempos (cf. Mt 28,20). Para desmentir o que os protestantes pregam, dizendo que a Igreja modificou a doutrina, ou apostatou, transcreveremos abaixo alguns dos testemunhos primitivos, que provam que a Igreja ensina hoje o mesmo que ensinava nos tempos mais remotos do cristianismo:

"Ele (Jesus) veio para salvar a todos através dele mesmo, isto é, a todos que através dele são renascidos em Deus: bebês, crianças, jovens e adultos. Portanto, ele passa através de toda idade, torna-se um bebê para um bebê, santificando os bebês; uma criança para as crianças, santificando-as nessa idade...(e assim por diante); ele pode ser o mestre perfeito em todas as coisas, perfeito não somente manifestando a verdade, perfeito também com respeito a cada idade" (Santo Irineu, ano 189 - Contra Heresias II,22,4).

"Onde não há escassez de água, a água corrente deve passar pela fonte batismal ou ser derramada por cima; mas se a água é escassa, seja em situação constante, seja em determinadas ocasiões, então se use qualquer água disponível. Dispa-se-lhes de suas roupas, batize-se primeiro as crianças, e se elas podem falar, deixe-as falar. Se não, que seus pais ou outros parentes falem por elas" (Hipólito, ano 215 - Tradição Apostólica 21,16).

"A Igreja recebeu dos apóstolos a tradição de dar Batismo mesmo às crianças. Os apóstolos, aos quais foi dado os segredos dos divinos sacramentos sabiam que havia em cada pessoa inclinações inatas do pecado (original), que deviam ser lavadas pela água e pelo Espírito" (Orígenes, ano 248 - Comentários sobre a Epístola aos Romanos 5:9)

"Do batismo e da graça não devemos afastar as crianças" (São Cipriano, ano 248 - Carta a Fido).


Conclusão
O batismo é uma graça regenerativa para a vida humana. Ninguém deve ser privado desta graça. O batismo deve ser principalmente ministrado para as crianças. E esta sempre foi a prática da Igreja.

Somente o Papa possui a autoridade para ligar e desligar (na terra e no céu, cf. Mt 16,19). Fora isto, ninguém tem o direito de negar esta graça às crianças. É através do batismo que temos nossa primeira experiência com Jesus. Creio que Jesus está fazendo o seguinte apelo aos protestantes: "Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais" (Lc 18,16).



PS:
O Papa Bento XVI sobre o Batismo de Crianças (Clique Aqui)
O Catecismo da Igreja Católica sobre o Sacramento do Batismo (do número 1213 e seguintes)

Purgatório




O Purgatório é simplesmente o estado que a alma do cristão vê, com toda a clareza, a hediondez da sua vida tíbia na terra, e repudia toda incoerência do seu amor a Deus, vencendo a resistência das paixões que neste mundo se opuseram à purificação desse amor. A alma sofre por ter sido negligente e, em conseqüência, ter adiado o seu encontro face a face com Deus


O Papa Bento XVI na sua encíclica Spe Salvi diz que o purgatório é, para nós, fonte de grande esperança. E daí você já está pensando quão "pobres" são os protestantes que não acreditam no purgatório, já podem começar a desesperar. Por que? Porque para nós termos esperança na salvação nós temos que entender uma coisa muito séria: Deus é Santíssimo. Claro, ele mereceu para nós a Salvação e nesse sentido os nossos irmãos protestantes estão corretos quando eles insistem na realidade de que o sacrifício salvador de Nosso Senhor Jesus Cristo foi suficiente para nos redimir e para abrir as portas do paraíso para nós. Então nós podemos devemos acreditar que em Jesus aconteceu uma salvação objetiva, sim!

Agora o problema é que não existe somente a salvação objetiva, existe também a salvação subjetiva, ou seja, as condições para sermos salvos já existem, Jesus já nos redimiu, já nos salvou, o problema é que nós temos que acolher isso pessoalmente, e não basta a fé.

Os protestantes acham que só a fé basta: "eu acredito que Jesus fez isso" pronto! E acabou!
Só que existe uma realidade que nós podemos "tocar com a mão" no nosso dia-a-dia, é que mesmo acreditando em Jesus, mesmo tendo fé nós vemos que dentro de nós continua algo de pecaminoso, uma tendência para o mal, essa tendência para o pecado, nós chamamos de concupiscência, São Paulo usava a palavra επιθυμια (Epitumia), ou seja, essa realidade que nos leva a um desejo, a uma espécie de apetite para o mal, isto está em nós, apesar de Nosso Senhor Jesus Cristo já ter nos salvado, nós temos essa tendência, ela vem do pecado e conduz ao pecado, embora a concupiscência em si mesma não seja pecado, nós sabemos disso. No entanto veja, Ela, é uma consequência do pecado, isso está em nós, e nós podemos experimentar isso realmente, não precisa acreditar no Papa Bento XVI, não precisa acreditar em mim, basta você acreditar naquilo que você enxerga dentro de você, nós vemos que apesar de ter a fé em Jesus nós temos uma tendência para o pecado.

A pergunta é, meu irmãozinho evangélico, você acha que este coração do jeito que ele está, com essa tendência para o pecado está pronto para entrar na vida eterna junto com Deus?
Bom, não sei qual é a sua resposta, mas a resposta de Lutero é que sim, ou seja, o pecador que tem fé em Jesus Cristo, ele irá entrar no céu, com este coração pecador, no entanto irá entrar com o pecado disfarçado, por assim dizer, ou seja, Lutero pega uma frase de São Paulo e a interpreta ao pé da letra, que a fé ela é julgada por Deus como sendo justiça, ou seja, no fundo no fundo, você não foi justificado, você não foi salvo, você não foi redimido, mas Deus "vai limpar sua barra" e vai considerar, vai fazer de conta que você está pronto pra entrar no céu.

Só que acontece que isso não é salvação, isso não é felicidade pra ninguém, por que? Porque imagine você entrar com esse coração pra toda a eternidade, meu irmão isso é desespero, isso é terrível, porque olhe para dentro de nós, dentro de nós temos generosidade, mas ao mesmo tempo nós temos avareza, nós temos amor, mas ao mesmo tempo temos egoísmo, nós perdoamos, mas ao mesmo tempo somos rancoroso, nós vemos dentro de nós que nós não somos seres humanos, nós somos um campo de batalha, nós no fundo no fundo estamos sempre nessa realidade do conflito, então, quando nós morremos, morremos nesse estado de conflito.

O Papa nos diz na sua Encíclica Spe Salvi que existem pessoas muito boas, pessoas que tem um coração especialmente bondoso, nós não temos dificuldade nenhuma de achar que essas pessoas que sofreram tanto aqui na vida e que, verdadeiramente, se uniram a cruz de Cristo, como os nossos Santos, que são nossos heróis da fé, nós não temos dúvida nenhuma, e dificuldade nenhuma de achar que essas pessoas quando morrem já vão par ao céu, assim também não temos dificuldade de compreender que existem pessoas que estão realmente fechadas para Deus, estão fechadas para o amor, fechadas para o Espirito Santo, que cometeram o pecado de fechar o seu coração para a verdade e que essas pessoas uma vez colocadas diante da verdade de Deus irão rejeita-lo virar as suas costas e ir para um rumo diferente, chamado de inferno.

Existem esses dois extremos, corações especialmente bons, corações especialmente maus, mas a maior parte das pessoas são como eu e você, um coração medíocre, um coração que é bondade e ao mesmo tempo é maldade, que é amor e ao mesmo tempo é egoísmo, que é santidade e ao mesmo tempo é miséria, essas pessoas, como eu e você, como elas vão para o céu?
Bom, Lutero acha que elas entraram disfarçadas porque elas tem fé e a fé é disfarçar esse pecado, e então, travestidas de justos elas serão consideradas justas e viveram eternamente, só que isso não é salvação, porque viver com este conflito dentro de mim a eternidade toda não é salvação.

Então é aqui que a Igreja , ela crer que existe uma purificação, um purgatório, ou seja, onde esse meu coração, miserável, que não ama a Deus o suficiente será purificado pelo amor de Deus, o Papa Bento XVI, fez uma catequese a respeito de uma Santa pouco conhecida, Santa Catarina de Gênova, e essa Santa que nasceu no século XV, ela tem uma doutrina sobre o purgatório, porque na sua vida mística, espiritual, ela teve experiência da dificuldade que existe dentro de nós, do drama que existe dentro de nós por causa do nosso pecado.

Catarina era uma mulher casada com um homem que foi fazendo com que ela vivesse uma vida mundana, digamos assim, o seu marido era um homem viciado em jogos de azar, e Catarina seguia seu marido na vida mundana, até que um diz ela foi se confessar, e nessa confissão ela foi, transverberada, ela foi atingida pelo amor de Deus no seu coração e Deus mostrou, o seu infinito amor, e ela viu a sua grande miséria, aqui ela sentiu uma experiência, já aqui na terra, deste amor imenso, mas isso fazia com que ela sofresse, sim, um fogo interior que fazia com que ela de alguma forma passasse por uma purificação, por que?
Porque ao ver a grandeza do amor de Deus e ao ver a sua própria miséria, foi nessa experiência básica e fundamental que Santa Catarina de Gênova, descobriu o que era o purgatório, ou seja, diferentemente dos autores de sua época que pensavam o purgatório como um lugar em que a pessoa fica lá pagando seus pecados, Santa Catarina de Gênova, compreendeu perfeitamente que o purgatório era um fogo interior, um fogo na alma, que queimava, mas queimava exatamente porque aquele coração pecador não conhecia o amor de Deus e agora passou a conhece-lo e quando ele conhece, vê sua miséria, e vê a grande misericórdia.

Ou seja, quando nós nos damos conta o quanto nós fomos amados e o quanto não amamos de volta, aqui está a experiência do purgatório, essa experiência de ver, receber a graça de ver a nossa verdade mais profunda, vejam, meus irmãos, a doutrina da Igreja a respeito do purgatório se baseia exatamente na verdade, entrará no seu a nossa verdade, mas qual é a nossa verdade?
A nossa verdade é de uma imensa miséria e de uma infinita misericórdia de Deus, quando a miséria se encontra com a misericórdia, acontece aquela dor do filho pródigo, pequei contra o céu e contra ti, não sou digno de ser chamado teu filho, e no entanto Deus continua amando e fazendo festa, esta dor de saber o quanto eu fui amado mas o quanto, infelizmente, eu não amei de volta chama-se purgatório, é aqui que está a essência do purgatório.

A Igreja ela crer que existe um purgatório e que nós poderíamos evitar esta grande dor, esse grande fogo purificador depois de nossa morte, se já aqui na terra vivêssemos a penitência, é ai que nós entendemos então o que é a vida de ascese, a vida penitencial, a vida de ascese é um vida em que a pessoa através da penitência, já, aqui nesse mundo entra nessa dinâmica de enxergar a sua verdade, a verdade de sua miséria e a verdade da infinita misericórdia de Deus. A penitência não é para pagar os meus pecados, a penitência é para que eu tome posse dessa miséria que eu sou e a apresente diante de Deus, porque, como diz Santa Catarina de Gênova, chega de pecado! Chega de mundo! Nós não podemos ficar nos entregando ao pecado e ao mundo desse jeito quando nós fomos tão amados por Deus, viver uma vida de penitência aqui neste mundo é iniciar, já agora, esse processo de purificação.

Não se trata de achar que eu sou salvo pelas minhas penitências, nada disso, Jesus já me salvou, a salvação objetiva ela já aconteceu, eu preciso, porém, tomar posse dessa salvação, e esse tomar posse é subjetivo, não acontece somente com a fé, a fé sozinha não basta, porque a fé sozinha é uma fé morta.

Para entender o relacionamento entre fé e obras nós poderíamos tentar ajudar aos nossos irmãos protestantes com uma comparação: imagine a relação entre vida e movimento, quando uma pessoa cai no chão desmaiada você quer saber se ela está viva, então o que você faz? Você procura movimento, você procura ver se ela continua respirando, se os batimentos cardíacos estão lá, os médicos pegam e colocam uma lanterna para ver se a pupila se retrai ou dilata, se a pupila está dilatada e não retrai é porque a pessoa morreu, não há movimento, se as ondas cerebrais não funcionam, se o cérebro não está reagindo, se eletroencefalograma está plano e chato, ali não tem vida, então vejam, os médicos e as pessoas procuram movimento e o movimento é sinal de vida, agora evidente, todo mundo sabe que movimento não é vida, se você pegar um cadáver e move-lo mesmo assim, isso não vai fazer com que ele esteja vivo, mas se existe vida tem algum movimento.

Assim também é a fé, a fé é a vida da alma, mas se essa fé é verdadeira ela precisa ter movimento, ou seja ela precisa ter as obras, não há vida se não houver movimento, não há fé se não houver obras, e as obras, as obras de caridade, as obras de rejeitar o mundo, as obras de lutar contra o pecado, a obras de uma vida ascética são necessárias para que a nossa fé seja verdadeiramente viva, nós não estamos comprando a salvação estamos somente assumindo a salvação que Nosso Senhor já adquiriu para nós, trata-se de entrar com fé verdadeira, ou seja, uma fé, como diz São Tiago, que se manifesta pelas obras.

domingo, 4 de novembro de 2012

Indulgências



Pra falar das indulgências eu precisaria escrever um livro inteiro, mas vou tentar escrever um pouco e deixar aqui uma bibliografia básica para ser consultada que é o Catecismo da Igreja Católica a partir do número 1471 e seguintes, ali você vê uma tratativa sistemática do que seja a doutrina das indulgências.

Para entender o que é indulgência nós precisamos entender uma outra coisa antes, que e a pena temporal, então vou explicar pra você um pouco através da história da Igreja, fica mais fácil para você entender, hoje em dia nós temos a confissão, e através da confissão você recebe o perdão dos seus pecados e a penitência que o padre lhe dá para que você cumpra, mas não foi sempre assim, houve na história da Igreja outra modalidade de se administrar o sacramento da penitência, como era, a pessoa ia até o sacerdote ou até o bispo, confessava o seu pecado recebia um a penitência, que deveria cumprir, e só depois de cumprir essa penitência, que muitas vezes era longa, é que a pessoa podia ser readmitida à comunhão na Igreja, com a absolvição, então veja, nós hoje em dia temos uma inversão das coisas, temos a confissão, imposição da penitência, mas não a realização dela ainda, e a absolvição, depois o fiel vai pra casa e realiza a penitência que lhe foi imposta.

Está era a prática da Igreja antiga: a pessoa primeiro precisava fazer penitência para depois receber a absolvição, por que isso? Deus não perdoa os pecados de graça? Jesus não já pagou meu pecado na cruz? Sim, Deus perdoa o pecado de graça, mas a penitência não é pra pagar os pecados, a penitência é para resolver os problemas que eu criei com meus pecados, aqui que está a diferença, é aquilo que na teologia é chamado de pena eterna e pena temporal, qual a diferença? Quando você peca você ofendeu a Deus, e por isso você mereceu o inferno, o inferno chama-se a pena eterna, o padre absolve você e por isso você não precisou pagar nada por essa absolvição, por que? porque essa salvação eterna ela é completamente de graça, porém, existe uma coisa que você nota em você, e ai você não precisa acreditar na doutrina da Igreja , não precisa acreditar em mim, em nada, basta você olhar dentro de você, mesmo depois de absolvido os seus pecados, você continua com uma tendência para o mal, mesmo depois que você recebeu o perdão você continua com aquela inclinação para a maldade, por que? bom, a gente diz no ditado popular que é o cachimbo que entorta a boca, ou seja, você vai fazendo aquele pecado e aquilo vai viciando você, fazendo que você fique cada vez mais inclinado para o pecado, isso a absolvição não resolve, isso é algo que você deve resolver através da penitência.

É assim, que na história da Igreja, no início, essa questão da penitência sempre foi levada muito a sério, por era visível que: é verdade, pelo pecado me tornei uma pessoa pior, então, a penitência não é uma imposição injusta do padre, é algo necessário para mim, é uma bondade de Deus, é uma coisa boa e bonita, porém até aqui não falamos de indulgência, como é que surgiram as indulgências dentro da Igreja, aconteceu o seguinte:

Na época das perseguições muitas pessoas que ao invés de ser fiel a Jesus terminou traindo a Jesus e a Igreja, imagine que houvesse uma "blitz" dos soldados romanos, e de repente eles entram numa comunidade cristã e levam para "a delegacia", aqui adaptando a linguagem para nossa época, aquele grupo de cristãos, desse grupo de cristãos alguns professam a sua fé em Jesus Cristo e por isso são condenados, jogados no calabouço e por isso serão martirizados. Outros, na hora "do vamos ver", "amarelaram", foram covardes, negaram a Jesus Cristo e resolveram oferecer sacrifício aos ídolos, aqui nós temos então duas situações, cristãos que irão viver um martírio heroico, irão pagar uma penitência enorme, quando na verdade não tiveram pecados enormes, e do outro lado cristãos que traíram a Igreja, que traíram Jesus, acontecia que muitas vezes os cristãos traidores se arrependiam e iam até o bispo e diziam: Seu bispo eu trai Jesus, perdão, foi uma fraqueza, eu quero pedir ao senhor perdão do meu pecado, o bispo então impunha uma penitência para aquele cristão que havia caído e se converteu a penitência as vezes, ela durava alguns anos, durante anos essa pessoa deveria viver sem carne, dormindo no chão, quando fosse a Igreja ele precisaria ficar no fundo da Igreja de joelhos, batendo no peito e pedindo perdão, eram penitências desse tipo, bastante sérias, bastante graves.

Pois bem, nesse contexto aconteceu uma história de amor, alguns desses mártires que iam morrem, derramar o seu sangue por amor a Cristo, começaram a escrever as chamadas cartas de paz, o que era uma carta de paz, o mártir ele escrevia uma carta para o bispo, e dizia: senhor bispo, eu vou derramar o meu sangue, eu vou morrer por amor a Cristo, e isso e uma penitência enorme, eu peço ao senhor que o senhor receba esta penitência que eu vou fazer e aplique para "fulano", porque, coitadinho, ele vai ter que ficar dez anos fazendo penitência, então, o meu derramamento do sangue sirva para ele, isto era indulgência, ou seja, a aplicação dos méritos desses Santos mártires, o méritos desses membros da Igreja maravilhosos, para ajudar esses outros membros da Igreja "menos maravilhosos", esses outros membros da Igreja pecadores, que precisariam fazer tantos e tantos anos de penitência para se livrar das consequências do seu pecado, então veja, aqui esta realidade, a realidade da indulgência que diz: nós somos um só corpo, nós somos membros do corpo de Cristo, por isso, você não vai entender nunca a indulgência se você não crer na comunhão dos Santos, se você não crer que nós somos um só corpo em Cristo Jesus e o bem que eu faço afeta positivamente as outras pessoas, ou seja, a penitência que eu faço pode afetar outras pessoas que não fazem penitência, que a oração que eu faço pode afetar outras pessoas que não fazem oração, Nossa Senhora de Fátima pediu isso aos três pastorinhos, que eles se oferecessem pelos pecados, que fizessem penitência pela salvação da alma dos pecadores, como é isso possível? Só é possível se nós cremos que existe uma realidade de comunhão, "vasos intercomunicantes" na Igreja onde não é somente os pecados dos outros que me afeta, mas também as coisas boas e bonitas que eu faço que vão afetando os outros, e transformando os outros em pessoas melhores.

Se nós cremos nisso, então nós podemos entender como é que a Igreja administra as indulgências, ou seja, a disciplina das indulgências é uma forma da Igreja distribuir esta graça, da penitência, dos méritos, das coisas boas e bonitas que os seus membros Santos realizaram, vamos recordar que a Igreja é um só corpo, então imagine quantos méritos e quantas maravilhas já foram adquiridos por Jesus que morreu na cruz evidente, pela Virgem Maria, que nunca pecou, pelos Santos, que morreram de forma heroica, pois bem, esse é um tesouro espiritual da Igreja, e esse tesouro espiritual é aplicado a você através da indulgência, mas ou menos essa é a ideia, ou seja, com a confissão você recebe a absolvição de seus pecados e ali foi perdoada a pena eterna, o inferno, você morrendo não vai para o inferno, mas não foi perdoada a pena temporal, isso quer dizer que se você morrer nesses estado você não vai para o inferno, mas também vai ficar um tempo no purgatório até que você resolva o problema da pena temporal, resolva o problema dessa maldade que você criou no seu coração através do seu pecado, porque você não pode entrar com um coração desses no céu, então vejam como está tudo interconectado, ou seja, a penitência ela está ligada com a indulgência, e para entender a indulgência eu tenho que entender a comunhão dos Santos, e pra entender a comunhão dos Santos eu tenho que entender que existe pena temporal e que existe purgatório.
Aí está, parece uma grande confusão mas é uma coisa muito simples, o simples é o seguinte, Deus é bom e misericordioso você não precisa pagar por nada, só que o seu pecado, que você não precisa pagar, deixou consequências no seu coração, você precisa fazer penitência, mas você não está sozinho, a Igreja está com você, somos um só corpo, fazemos penitência juntos, então a indulgência passa para você, isto significa que nós também podemos ajudar as pessoas que estão lá no purgatório, as indulgência servem também para eles, ou seja, aquilo que eu faço aqui, eu posso ajudar essas pessoas porque nós somos um só corpo, eles não pagaram aqui na terra o que precisavam pagar da pena temporal? Eu posso ir pagando para eles, e a Igreja pode me ajudar com as indulgências para que eles possam receber muito mais do que aquilo que eu fiz com as minha sobras indulgenciadas, por exemplo, no dia 02 de novembro, quando nós temos a indulgência aplica aos fiéis defuntos, falecidos, as pessoas que estão no purgatório, como é que eu faço? Bom, eu faço uma visita ao cemitério, que é uma obra bastante simples, depois rezo pelas intensões do Papa, depois comungo, confesso, e então a Igreja diz que essa sua ação aplica àquelas pessoas que estão no purgatório uma indulgência plenária, ou seja, elas seria libertadas do purgatório, se você obteve essa indulgência.

A indulgência para nós é uma boa notícias, é uma realidade da qual nós não deveríamos nos livrar, tem gente que não acredita em indulgências porque acha que eles estão ligadas a uma mentalidade anti-ecumênica, porque houve a briga com os protestantes no século XVI a respeito das indulgências, nada disso justifica, se os membros da Igreja cometeu algum erro no passado ao aplicar a sua doutrina, não pode fazer que nós queiramos mudar a doutrina, se houve pessoas que abusaram das indulgência, querendo vender as indulgências, coisas que é proibido, sempre foi e sempre será, então, se houve pessoas que abusaram da disciplina eclesiástica não quer dizer que eu deva abolir a doutrina das indulgências, veja, se uma pessoa trai a sua esposa eu não devo abolir o matrimônio por isso, mas devo ao contrário, crer ainda mais no matrimônio para que esse casal se reconcilie cada vez mais, também a indulgência, se algum membro da Igreja, historicamente, abusou da indulgência nós não devemos deixar de usar esse tesouro, que é maravilhoso, saber que eu não estou sozinho lutando contra o meu pecado, eu tenho a Igreja inteira que me apoia e como mãe indulgente me ajuda a vencer e a ser melhor. 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dia de todos os fiéis defuntos - Finados (Igreja Padecente)



Hoje, 02 de novembro, celebramos o dia de todos os fiéis defuntos, popularmente conhecido como dia de finados.

O que é que nós fazemos nesse dia?
Nesse dia nós visitamos os cemitérios, e lembramos de rezar pelas nossas pessoas que nós amamos, pelas pessoas que queremos bem e não somente isso, também pelas almas necessitadas que estão no purgatório.

Que sentido tem nós rezarmos pelas pessoas falecidas?
O Papa Bento XVI em sua Encíclica Spe Salvi, no número 48 ele procura dar as razões de nós praticarmos isso, de nós rezarmos pelos nossos irmãos falecidos, ele lembra que essa prática de rezar pelos defuntos é algo que vem desde o Antigo testamento, como atesta o segundo livro dos Macabeus, mesmo que os nossos irmãos evangélicos não aceitem o livro dos Macabeus como um livro canônico, ou seja um livro que faz parte das escrituras, eles não tem como negar que é um livro que atesta uma pratica histórica, ou seja, antes de Jesus os Judeus já rezavam pelos mortos. E, depois de Jesus, esta realidade continua, se nós formos nas catacumbas de Roma, onde os primeiros cristãos sepultavam os seus irmãos falecidos, nós iremos encontrar que nas lápides dos túmulos cristãos haviam pequenas orações em que os cristãos pediam a Deus e pediam aos Santos que intercedessem por esse irmão falecido, em favor desse irmão falecido. Por isso nós temos essa Tradição, que continua através dos séculos 2000 anos de cristianismo nós continuamos ajudando os nossos irmãos falecidos a oração, a eucaristia e a esmola, são três praticas fundamentais que nós pensamos, cremos e sabemos que podem ajudar os nossos irmãos no purgatório.

E por que isto?
Porque nós sabemos que o amor não é detido pela morte,o amor é mais forte que a morte, portanto o nosso amor por esses irmãos pode ir para além das portas da morte. Nós podemos rezar por eles, nós podemos interceder por eles, e isso é uma convicção fundamental do cristianismo, é algo que nos estimula, essa certeza de que nós podemos e devemos amar os nossos irmãos.

O Papa em sua Encíclica Spe Salvi, diz assim:
"Quem não sentiria a necessidade de fazer chegar aos seus entes queridos, que já partiram para o além, um sinal de bondade, de gratidão ou mesmo de pedido de perdão?"
 As vezes você tem uma pessoa que faleceu e você gostaria de pedir perdão, você gostaria de agradecer o que você não teve tempo de agradecer, você gostaria de pedir a Deus em favor daquela pessoa, pois bem, depois da morte nós continuamos nessa comunhão, nós somos membros do corpo de Cristo e a morte não nos excomunga, não nos tira do corpo de Cristo, ora, o que um membro faz de bom influencia o outro, e por isso, nós podemos nos unir a esses irmãos falecidos através da nossa oração, do nosso bem querer e da nossa intercessão.

O Papa diz uma frase belíssima nessa sua Encíclica, ele diz:
"Nunca é tarde demais para tocar o coração do outro, nem é jamais inútil." 
 Até mesmo depois da morte, nunca é tarde demais, por que? porque nós não sabemos como é que se dá o tempo depois da morte, e não estamos querendo invadir o tempo de Deus, não é isso, mas existe o nosso tempo e no nosso tempo nunca é  tarde demais para amar, aqui do nosso lado, do jeito que nós enxergamos, nós sabemos, mesmo depois da morte podemos e devemos continuar amando.

O Papa conclui essa sua reflexão com uma constatação belíssima: a nossa esperança a esperança que nós temos de salvação, só é verdadeira esperança quando é esperança também para os outros, quando nós esperamos salvação, não somente pra nós, mas também para os outros. Seria muito ruim que nós desejássemos uma salvação egoística, porque uma salvação egoística não seria salvação alguma, seria inferno, somente quando nós queremos a salvação de todos é que somos verdadeiramente cristãos, mesmo que nós saibamos: é possível que haja pessoas no inferno, mas podemos e devemos esperar a salvação, a esperança de que no final o amor de Deus vencerá.

domingo, 28 de outubro de 2012

Uma História que não é contada - Parte 3

O Mito da Inquisição

Um pequeno mas valoroso vídeo que fala sobre a Inquisição:


Documentário “O Mito da Inquisição Espanhola” (Dublado, dividido em 4 partes), produzido pela BBC de Londres e exibido pela TV Escola. O vídeo traz depoimentos de pesquisadores isentos e renomados que se debruçaram sobre este complexo tema, desmitificando falsificações históricas arquitetadas com o único objetivo de criar uma lenda negra em torno desta complexa instituição e, destarte, desmerecer a Igreja Católica e sua contribuição decisiva na construção da civilização ocidental.

Parte 1


Parte 2



Parte 3



Parte 4




Uma história que não é contada - Parte 2



O testemunho de um agnóstico


O Prof. Léo Moulin, que foi cinquenta anos docente da Unicersidade Maçônica de Bruxelas, Universidade fundada para para fazer frente à Católica de Louvain, era filho de família agnóstica, anticlerical voltada para o Socialismo. Moulin falou como agnóstico, respondendo ao jornalista italiano Vittorio Messori, que o entrevistou. Eis o que declarou:

“O século XIII, vértice da sociedade medieval, é um dos pontos mais altos e luminosos da história do Ocidente ou mesmo da humanidade. Em poucos decênios, tivemos Giotto, Dante, Tomás de Aquino, mil catedrais… “

Moulin ri do mito dos “séculos obscuros”:


"Eis um breve e incompleto elenco das invenções tecnológicas (obras, quase todas, de monges beneditinos) do homem medieval, que, como diz a lenda, vivia na ignorância e na penitência, apenas à espera do fim do mundo: o moinho de água, a serra hidráulica, a pólvora preta, o relógio mecânico, o arado, a relha, o timão, a roda, o jugo para o cavalo, o canal com reclusas e portas, a canga múltipla para os bois, a máquina para enovelar a seda, o guindaste, a dobadoura, o tear; o cabrestante complexo, a bússola magnética, os óculos. Acrescentemos a imprensa, o ferro fundido, a técnica de refinação, a utilização do carvão fóssil, a química dos ácidos e das bases, etc. Esse impulso ao conhecimento científico e tecnológico continuou nos séculos seguintes: no início do século XVII a Europa contava 108 Universidades, enquanto no resto do mundo não havia uma só... isto põe um problema para o historiador. Por que é que o desenvolvimento ocorreu somente em área cristã, e não fora desta? Por que, hoje ainda, entre os dez países mais evoluidos e ricos do mundo, nove são de tradição cristã? Não há outra explicação senão a que já expus em livros dedicados à questão: há na mensagem cristã alguma coisa que leva osgérmens do desenvolvimento e do progresso. A antropologia da Bíblia exalta o homem e o põe no centro do universo. Além disto, pregando igualdade, ela cria uma sociedade livre, sem barreiras sacrais ou de castas; não há, pois, como se surpreender se, alimentado por tal mensagem, o homem europeu conquistou o mundo... Por que as suas naves lhe permitiam dominar os mares? Por que ele, e ele só, sentiu a necessidade de expandir-se sobre a terra inteira, enquanto a África, a Ásia, a América pré-colombiana permaneciam imóveis nos seus confins? Sem esta nossa maravilhosa Europa, o mundo, como o conhecemos, não existiria. Mas não existiria nem mesmo esta Europa recoberta de glórias, sem as suas raízes cristãs e sem os seus monges".

Uma história que não é contada - Parte 1




Visão deturpada sobre a Idade Média


Muitas vezes vemos ser usado o termo "Idade das Trevas" para se caracterizar a Idade Média cristã; é um grande absurdo e preconceito contra este tempo e contra a Igreja, além de ser um grave erro histórico.

A Idade Média não foi um período de desorganização política, econômica e cultural; não foi um período de desprezo da razão e da morte do saber e da ciência. Essas mentiras absurdas e anti-históricas, foram inventadas pelos filósofos iluministas, que, acreditando serem eles os "iluminados" pela "deusa da razão" que entronizaram na Catedral de Notre Dame de Paris, na época da Revolução Francesa ( 1789 ), odiavam a Idade Média por ser este um período em que a Igreja católica mais exerceu a sua boa influência no mundo.

Debaixo de um ódio ideológico à Igreja católica, Diderot, D' Alembert, Montesquieu, Rousseau, Turgot, Condorcet, Voltaire... deram à Idade Média o título de "Idade das Trevas", chamando o movimento deles de "Iluminista", uma vez que diziam "jogar a luz sobre as trevas" da Idade Média e da Fé Católica ( Souza T. F., 2007 ). "Eles acusavam, como veremos, a Igreja de Inimiga da razão e do desenvolvimento das Ciências; e que pretendia encarcerar o homem nas trevas da Religião através dos dogmas; e inimiga da liberdade. Neste livro você poderá constatar que tudo isso é uma grande falsidade e ódio gratuito a Igreja católica".

Para os iluministas, a Idade Média foi a Idade do Atraso, onde o conhecimento era reservado a poucos; o saber dominado pela Igreja, que assim dominava o povo ignorante com superstições e misticismos; e que cientistas eram assassinados e "grandes filósofos" calados nas fogueira da Inquisição, etc...

Lamentavelmente esta triste e injusta mentalidade ainda existe hoje em nossas universidades, embora amplamente desmentida pelos historiadores modernos.

Com a expressão "Idade Média", os iluministas queriam pejorativamente caracterizar o período da Língua Latina que vai da Idade Clássica antiga no século V ao renascimento da mesma no século XV. Para esses pseudo "iluminados", a Idade Média estava entre duas épocas áureas ( entre os séculos V e XVI ), e seria uma fase apagada ou "decadente" na história do idioma latino entre 476 e 1453. A palavra Gótico era usada como sinônimo de bárbaro, algo absurdo. O protestantismo infelizmente reforçou esta mentalidade pejorativa.

No século XVIII, o Iluminismo repetiu as mesmas sentenças, como vemos nos escritos de Voltaire, Montesquieu, D' Alembert... acusando a Igreja de promover a superstição e a ingenuidade da mente. Mas no século XIX a historiografia do romantismo reconheceu os valores medievais. Esses iluministas, paradoxalmente se apropriaram das universidades nos século XVII e XVIII, QUE FORAM CRIADAS PELA IGREJA, como se fossem seus fundadores para atacar a Igreja.

Em 1688, o historiador alemão Cristóvão Keller ( Cellarius) na sua "Historia da Idade Media", adotou pela primeira vez este nome.

A maioria das pessoas que falam sobre a Idade Média, nunca a estudaram devidamente; apenas a conheceram por sua "má fama", propagada pelos adversários da Igreja, alguns revoltados professores de colégio e universidades. A única idéia que têm dela é de um período de execuções, massacres, cenas de violência, fome, epidemias... É frequente ouvirem-se observações como: "Não estamos mais na Idade Média" ou "É uma mentalidade medieval, obscurantista".

A historiadora Régine Pernoud, especialista francesa em estudos medievais, desmentiu cientificamente essa mentalidade errada e perversa no seu livro "Lumière du Moyen-Age", publicado em 1945, que mereceu-lhe o prêmio "Fémina Vacaresco" de Crítica e História. Em 1978, a autora editou "Pour en finir avec le Moyen-Age", obra que lhe valeu o prêmio "Sola-Cabiati" da cidade de Paris e a consagração da crítica como sendo uma das mais notáveis conhecedoras da Idade Média. Tal obra foi traduzida para o português com o título "Idade Média: O que não nos ensinaram", pela editora Agir, SP.

Eis as palavras com que a historiadora medievalista conclui seus estudos sobre os costumes dos cidadãos da Idade Média: "Do conjunto sobressai uma confiança na vida, uma alegria de viver do que não encontramos em mais nenhuma civilização. Essa espécie de fatalidade que pesa sobre o mundo antigo, esse teor do Destino, deus implacável ao qual os próprios deuses estão submetidos, o mundo medieval ignorou-a totalmente". ( Pernoud, 1997 ).

Na verdade, os mil anos da Idade Média ( 476-1453 ) foram uma fase valiosa e rica da historia da humanidade, onde a nossa civilização ocidental, hoje preponderante, foi "preparada e moldada pela luz de Cristo". Os cristãos medievais salvaram o que havia de bom na cultura greco-romana, após a invasão dos bárbaros, e a desenvolveram de modo cristão, lançando as bases da nossa civilização moderna.

A cultura predominante em nossos dias é a ocidental, e esta tem sua origem na Europa medieval moldada pela Igreja. A época moderna não surgiu a partir do nada; seus valores foram cultivados na Idade Média; como então esta época poderia ser negativa? A Idade Média é a raiz boa da nossa Civilização Ocidental; e não, como querem alguns, a decadência do mundo romano antigo. A Idade Média berçou o mundo moderno.

O historiador agnóstico Will Durant ( 1950 ), defende a Igreja: " A causa básica da regressão cultural não foi o Cristianismo, mas o barbarismo; não a religião, mas a guerra. O empobrecimento e ruína das cidades, mosteiros, bibliotecas, escolas, tornaram impossível a vida escolar e científica. Talvez a destruição tivesse sido pior se a Igreja não tivesse mantido alguma ordem na civilização decadente." " Muito antes que as escolas leigas surgissem no século XII. a Igreja já mantinha escolas nos centros urbanos e nos mosteiros. É raríssimo encontrar um intelectual medieval que não tenha aprendido as primeiras letras num mosteiro. O gênio da filosofia medieval, Tomás de Aquino, iniciou seus estudos na Abadia de Montecassino, em 1230, com cinco anos de idade, sob orientação dos monges beneditinos, entrando para a Ordem dos Dominicanos, em 1244. O grande poeta florentino e maior poeta italiano, Dante Alighieri, estudou inicialmente no Convento de Santa Croce, em Florença, sob orientação dos franciscanos. Se Dante foi o intelectual de primeira categoria, é porque foi educado em boa escola. Isto é prova de que este período não era um "período de trevas".

Foi um monge católico, o inglês Alcuín, ministro de Carlos Magno (+814) quem estabeleceu um programa de estudos para as escolas da época medieval, explorando as ditas Sete Artes: o "Trivium", que abrangia as três matérias de ensino literário: gramática, retórica e dialética; e o "Quadrivium", que abrangia as quatro matérias de ensino científico: astronomia, música, aritmética e geometria.

Durante o Renascimento promovido pelo o imperador Carlos Magno foi confiada à Igreja Católica a tarefa de educar o povo, através de escolas dos monges e de escolas catedrais. ( Souza T. F., 2007 ).


sábado, 25 de agosto de 2012

Não devemos nada ao feminismo!




Transcrevo aqui um excelente texto da jovem filósofa Talyta Carvalho, publicado ontem na Folha de São Paulo por ocasião do Dia Internacional da mulher:

As feministas chamaram de libertação a saída forçada da lar para trabalhar; sua intolerância tornou constrangedor decidir ser dona de casa e cuidar dos filhos.
Na história da espécie humana, a ideia de que a mulher deveria trabalhar prevaleceu com frequência muito maior do que a ideia de que deveria ficar em casa cuidando dos filhos.
Não raro, o trabalho que cabia à mulher era árduo e de grande impacto físico. Para a mulher comum na pré-história, na Idade Média, e até o século 19, não trabalhar não era uma opção.
Uma das conquistas do sistema econômico foi que, no século 20, a produtividade havia aumentado tanto que um homem de classe média era capaz de ter um salário bom o suficiente para que sua esposa não precisasse trabalhar.
No período das grandes guerras e no entreguerras, a inflação, os altos impostos e o retorno da mulher ao mercado de trabalho (que significou um aumento da mão de obra disponível) diminuíram de tal modo a renda do homem comum que já não era mais possível que maioria das mulheres ficasse em casa.
Esse movimento forçado de saída da mulher do lar para o trabalho as feministas chamaram de libertação.
Óbvio que não está se defendendo aqui que as mulheres não possam trabalhar, não casar, não ter filhos ou que não possam agir de acordo com as suas escolhas em todos os âmbitos da vida. Não é essa a questão para as mulheres do século 21 pensarem a respeito.
O ponto da discussão é: em que medida a consequência do feminismo, para a mulher contemporânea, foi o estrangulamento da liberdade de escolha?
Explico-me. Por muito tempo, as feministas reivindicaram a posição de luta pelos direitos da mulher, exceto se esse direito for o direito de uma mulher não ser feminista.
Assumir uma posição crítica ao feminismo é hoje o equivalente a ser uma mulher que fala contra mulheres. Ilude-se quem pensa que na academia há um ambiente propício à liberdade de pensamento.
Como mulher e intelectual, posso afirmar sem pestanejar: nunca precisei “lutar” contra meus colegas para ser ouvida, muito pelo contrário. A batalha mesmo é contra as colegas mulheres, intolerantes a qualquer outra mulher que pense diferente ou que não faça da “questão de gênero” uma bandeira.
Não ser feminista é heresia imperdoável, e a herege deve ser silenciada. Até mesmo porque há muito em jogo: financiamentos, vaidades, disputas de poder, privilégios em relação aos colegas homens -que, se não concordam, são machistas e preconceituosos, claro.
Outro direito que a mulher do século 21 não tem, graças ao feminismo, é o direito de não trabalhar e escolher ficar em casa e cuidar dos filhos -recomendo, sobre a questão, os livros “Feminist Fantasies”, de Phyllis Schlaffly, e “Domestic Tranquility”, de F. Carolyn Graglia.
Na esfera econômica, é inviável para boa parte das famílias que a esposa não trabalhe. Na esfera social, é um constrangimento garantido quando perguntam “qual a sua ocupação?”. A resposta “sou só dona de casa e mãe” já revela o alto custo sóciopsicológico de uma escolha diferente daquela que as feministas fizeram por todas as mulheres que viriam depois delas.
O erro do feminismo foi reivindicar falar por todas, quando na verdade falava apenas por algumas. De fato, casamento e maternidade não são para todas as mulheres. Mas a nova geração deve debater esses dogmas modernos sem medo de fazer perguntas difíceis.
De minha parte, afirmo: não devo nada ao feminismo.

Brilhante análise! Mas faço uma ressalva quanto às origens históricas da emancipação da mulher. O “monstro” nasceu bem antes do século XX: surgiu com as idéias liberais e românticas de Jacques Russeau. O mito do “bom selvagem” do pensador suíço anti-cristão concebia a mulher como uma fêmea livre e promíscua, liberta do arquétipo de mãe e esposa (segundo ele, imposto pela Igreja Católica). A mulher de Rousseau devia ser autônoma, selvagem, e instintiva, como uma gazela que corre livre pelos prados. A emancipação feminina saiu do plano teórico de Rousseau para dar as caras no plano prático do cotidiano com a Revolução Industrial Inglesa, quando as mulheres passaram a viver o conflito “mãe ou operária”. Depois veio a Belle Époque. Agora o arquétipo de mulher virtuosa era a figura da Prostituta e das dançarinas do Can-Can. A “liberdade” de ser promíscua tinha um preço: libertar-se da dependência financeira do homem. As mulheres precisavam trabalhar para sustentar sua vida “livre e feliz”. O desgraçado século XX sepulta então o que restou da dignidade da mulher: a maldita revolução sexual com seus sutiãs queimados e gritos de um feminismo idiota. Hoje a mulher é “feliz” tomando anti-depressivos ou torrando dinheiro com cosméticos e cirurgias plásticas. Parabéns, Simone de Beauvoir e a todas as feministas amantes de intelectuais de esquerda do passado !!!!! Contemplem o que fizeram com suas filhas e neta !!!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Como cooperar com Deus para desenvolver as virtudes teologais?


  A pergunta é bastante especifica, se as virtudes da fé, esperança e caridade, ou seja as virtudes teologais, que são dons de Deus para nós, são infusas em nós, são derramadas pela graça em nossos corações, se são realmente algo que vem de Deus, o que é o ser humano pode fazer para receber essas três virtudes, ou seja, em que sentido nós podemos cooperar com Deus que quer operar em nós.

    Pediríamos aqui fazer uma comparação, uma pequena metáfora, para que você entendesse qual é o relacionamento entre a ação de Deus e a Ação do homem, a primeira coisa que nós devemos evitar é o perigo do pelagianismo, o pelagianismo é uma heresia que diz que o ser humano não precisa do auxilio da graça, e o semi-pelagianismo diz que embora eu precise da graça de Deus a iniciativa é do homem, então nós já diremos desde o início a iniciativa é de Deus, ao mesmo tempo que eu sei que a iniciativa é de Deus e que eu preciso da graça de Deus para o desenvolvimento dessas virtudes eu não posso também dizer que o ser humano é totalmente passivo, porquê? Por que se não nós estaríamos caindo em uma outra heresia que é o Jansenismo, que diz que o ser humano é eleito por Deus, Deus tem os seus escolhidos e boa noite, acabou, não adianta você querer se esforçar, Deus já sabe quem vai ser salvo e outras pessoas, a maior parte das pessoas aliás, Deus criou para ir para o inferno, ou seja, uma massa de gente condenada ao inferno, entre esses dois extremos, um otimismo maluco que diz: “ah, eu ser humano posso chegar a santidade sem a ajuda de Deus.” E o outro pessimismo deprimente, onde eu não sou nada, e realmente não posso fazer nada, sou como um marionete na mão de Deus, como é que nós podemos entender catolicamente essa realidade das virtudes teologais?

   A metáfora então é a seguinte: você imagine uma mãe que quer ensinar o seu filho a andar, nós poderíamos então colocar basicamente quatro passos nessa pedagogia da mãe, a mãe é Deus, a criança é o ser humano, a mãe é Deus que age com sua graça em socorro da alma, e a criança é a alma que quer aprender a caminhar, ou seja, quer aprender a crer, a esperar, e sobretudo, a amar, que é a missão mais difícil, ter realmente a virtude do amor e da caridade perfeita, pois bem, como é que as duas realidade interagem? Imaginemos uma mãe, primeiro passo, que atrai o seu filho para que ele caminho, a mãe se apresenta ali na frente da criança com um pequeno chocalho colorido ou com uma balinha, alguma coisa que atraia a criança, com um sorriso no rosto ela vem e incita o coração da criança para que o coração da criança reaja.
  
Aqui se cumpre aquele versículo da Sagrada Escritura: “quando eu for elevado atrairei todos a mim.” É o amor de Deus que nos atrai, quando nós olhamos para cruz de Cristo, quando nós vemos a forma como ele nos amou, isso realmente faz com que o nosso coração se aqueça, quando nós olhamos para virtude dos Santos, quando nós vemos o quanto eles se configuraram a Cristo, o quanto eles deram a vida deles por Jesus, nós vemos aquela beleza que irradia da vida dos Santos aquilo aquece o nosso coração, Deus nos atrai. O profeta Oséias dia assim: “Quando Israel era menino eu o ensinei a caminhar, eu o atrai com vínculos humanos.” O primeiro passo então é de Deus, nós não podemos ser semi-pelagianos, a primeira iniciativa é do Nosso Senhor, ele vem ao nosso encontro, ele nos atrai, é ele que nos ama. São Bernardo diz com toda clareza: ”todos os seres humanos são obrigados a amar a Deus sobre todas as coisas, no entanto para os cristãos é mais fácil.” Porquê? Por que nós sabemos que Deus nos amou, então nosso “amar a Deus sobre todas as coisas” não é uma iniciativa nossa, é um “redamare”, um amar de volta. Ele me amou, como é que eu não vou amar de volta quem me amou assim? É como diz Santo Agostinho: “quam modo tale amore no redamare” como é que eu não vou amar de volta um amor assim
  
   O amor de Deus nos impele, São Paulo nos diz: “Caritas Christ urget nos”  o amor de Deus nos fascina, e é por isso que quando nós meditamos o mistério da paixão de Nosso Senhor, quando nós vemos a vida de Cristo acontecendo na vida de seus Santos isso aquece o nosso coração é o contato com a palavra de Deus encarnada, com a palavra de Deus que se fez carne. Como dizem os apóstolos que caminhavam em Emaús: “Não ardia o nosso coração enquanto ele nos explicava as escrituras.” Esse ardor, essa atração de Deus que nos leva a Ele, esse é o primeiro passo, é a mãe que incita a criança a caminhar.

   Mas, uma ação de Deus tem que haver uma reação humana e a reação da criança é ver que quando a mãe diz: “vem meu filho, vem” a criança ergue os seus pequenos braços indo pra mãe, confiando. Quem já não viu essa cena? Quem já não viu a cena de uma criança está no braço de uma outra pessoa, de repente ela enxerga a mãe, ela já vai, já se joga, já ergue os seus braços e pede para ir, é a prece, é a oração, é o pedido, é a suplica, nós precisamos, atraídos pela graça de Deus, suplicar a graça, Senhor eu quero caminhar, quero ter a força, eu quero ter a graça, se nós não pedimos a intervenção divina, a coisa fica muito difícil, é necessário que nós tenhamos essa consciência: Eu preciso pedir, creio Senhor, mas aumenta minha fé. Se minha fé é pequeniníssima como um grão de mostarda, ou menor ainda que um grão de mostarda, porque o Nosso Senhor disse que se nossa fé fosse pequena como um grão de mostarda iriamos remover montanhas, ao ver que nós não conseguimos nem remover pedras quanto menos montanhas, vemos que a nossa fé é minúscula. Eu creio Senhor, nós já cremos, sim, porque querer crer já é crer de alguma forma, quando eu quero crer eu já estou crendo, a ação da graça já atuou em mim, mas querer crer é alargar o nosso coração, é pedir, é fazer uma prece, uma suplica ao Nosso Senhor, que ele venha em nosso socorro. Peça, quando você ver o seu coração incrédulo, diga: “Senhor eu quero crer.”, quando você ver o seu coração desesperado ou presunçoso: “diga Senhor eu quero esperar.”, quando você ver o seu coração egoísta, avarento, fechado, sem castidade, usando os outros, se aproveitando diga: “Senhor eu quero amar, eu quero.”

   Esse ato de vontade que já foi suscitado pela graça de Deus que me atraiu, pela graça de Deus que me fascina , pela graça de Deus que me toca, o primeiro passo é sempre de Deus mas o segundo passo precisa ser seu, você precisa reagir, você precisa pedir o aumento dessa graça, então a mãe atrai a criança mas a criança precisa erguer os seus bracinhos e pedir a intervenção da graça de Nosso Senhor, mas não para por ai, quando eu peço a graça, a mãe bondosa ouve o meu pedido, sim, Deus vem ao meu encontro e então, Ele ergue a criança. “Quando Israel era menino eu ensinei a caminhar” a mãe que sustenta a criança pelas suas mãozinhas, quem faz toda a força é a mãe, quem dá todo equilíbrio a criança é a mãe, quem sustenta o peso da criança é a mãe, é a ação da graça é a virtude, nós precisamos crer que existe uma intervenção Divina, nós precisamos acreditar nisso, nós não somos pelagianos que acham que Jesus deu somente um exemplo, imagine se Jesus só tivesse dado o exemplo, nós seriamos esmagados pela exigência de seguir esse exemplo, porque se ele amou assim nós olhamos para a nossa debilidade, a nossa fraqueza, a nossa miséria e vemos que nós damos conta de amar assim, nós não conseguimos amar assim, então é que precisamos de uma força que vem do alto, é a ação de Deus, Ele me sustenta, Ele carrega o peso, Jesus é o nosso Sirineu, aquele que carrega o peso de nossa cruz porque não damos conta de carregar o peso, de tal forma que quando eu sofro na cruz, não sou eu quem sofro, é Cristo que sofre em mim, é ai que nós podemos dizer como São Paulo: “Vivo, mas não eu. Cristo vive em mim.” É ai que eu posso realmente dizer como São Paulo, com Nosso Senhor Jesus Cristo “cocrucifixi cum Christo” eu estou Co-crucificado, São Paulo chega a criar uma palavra que não existe, “eu sou crucificado junto com ele”.

  Então, nesta ação divina, que me sustenta que me ergue, que faz com que a criança ande, existe o quarto passo, que é a reação da criança, a criança precisa mexer as pernas, sim, a mãe levanta a criança pelas mãozinhas, mas se a criança não mexer as pernas ela num vai a lugar nenhum, a mãe não vai arrastar a criança, ela precisa dar os seus passos, passos frágeis, trôpegos, com aquelas pernas cambaleantes, trançando as pernas, mas a criança precisa se esforçar, eu preciso reagir a graça de Deus, então vejam, são quatro passos, muito simples de se aprender, mas um desafio pra vida, Deus me atrai, número um, número dois: eu peço a graça; atraído por aquela beleza eu digo: “eu quero isso para mim, eu quero esse amor para mim, eu quero viver essa vida divina, essa vida extraordinário” A suplica, o pedido, a prece, batei e abrir-se-vos-á, se você não pede você não recebe, se você não procura você não encontra, então a graça responde, Deus vem ao nosso encontro, Deus se fez carne, e assim como ele se fez carne no ventre de Maria ele pode se fazer carne no seu coração, todo Cristão deve imitar Maria, colocando-se a disposição para que o Verbo se faça carne, e então você vai ser como, diz Santa Elizabete da Trindade, uma humanidade supletiva, uma humanidade a mais colocada em Cristo, como membro do corpo de Cristo ele vai agir em você, ele vai agir com a sua graça, é o número três, é a ação da graça de Deus, mas, número quatro, você precisa corresponder a essa graça fazendo também o seu esforço, é assim que as virtudes da fé, da esperança e da caridade, são virtudes infusas, são virtudes teologais, são virtudes dadas por Deus, mas tem que haver uma cooperação do homem, é muito diferente isso que eu estou dizendo, esses quatro passos, da atração divina, prece do homem, intervenção da graça e correspondência do homem.

   Esse quarto passo é muito diferente do que você pensar que você é um marionete na mão de Deus, um marionete não faz esforço algum, o marionete  não corresponde,  marionete é pura passividade, nas mãos do artista quem está realmente agindo não é o marionete, mas nós não somos marionetes de Deus, nós podemos e devemos corresponder.
 
   Deus que pode criar tudo, tem algo que Ele não pode criar, Ele não pode criar o amor em você, sim, Ele espera de você o amor porque o amor tem que ser livre, se eu pegar uma faca encostar no seu pescoço e disser: “ama-me!” naquele momento torna-se impossível, porque o amor ou é livre ou então ele não é amor, então Deus pode te dar a graça, pode te erguer, pode te dar todos os bens e intervenções divinas necessárias para que você ame, mas se você não  mexer as pernas e amar, caminhar, dar os seus passos, por trôpegos que sejam, você jamais irá conseguir amar a Deus, exige algo da sua liberdade, então vamos entrar nessa dinâmica do amor, fé esperança e caridade essas três grandes virtudes teologais, sem as quais não é possível agradar a Deus, fé, esperança e caridade.

   Que Ele venha ao nosso encontro, nos atraia com seus vínculos de amor e assim poderemos corresponder ao amor eterno com o qual fomos amados. “quam modo tale amore no redamare” Como é que eu não amarei de volta um amor grande assim?

sábado, 11 de agosto de 2012

Casamento em Crise


   

O que fazer com um casamento, uma vez que o sentimento desapareceu?
    A primeira coisa que gostaria de dizer é o seguinte, o amor não é sentimento, e se o sentimento está acabando, graças a Deus, agora chegou a hora de você finalmente amar sua esposa, ou seu marido.
   Deixe-me explicar, Vamos entender como é que é o ser humano, o ser humano ele é feito de corpo e de alma, agora os animais não tem alma, os animais não tem alma espiritual e por isso não são capazes de amar, mas os animais são capazes de sentir, ou seja, o cachorrinho fica todo cheio de sentimentos e excitações sexuais por ver a cachorrinha, então é claro, os animais sentem, os animais tem sensações físicas e corpóreas, mas o corpo é algo que sozinho não é capaz de amar.
   O ser humano é essa forma extraordinária de maravilhosa de a alma viver com o corpo, ou seja, de a matéria conviver com o espírito, isso quer dizer que nessa sinfonia de matéria e de espírito, de corpo e de alma, nós podemos fazer algo que só Deus é capaz, nós podemos amar.
   E o que é o amor? O amor foi revelado por Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz, o amor é uma aliança, um pacto, um testamento, uma nova e eterna aliança, um pacto em que duas pessoas se unem e dizem: “eu amo você, apesar de você, eu amo e vou dá a minha vida para que você encontre a felicidade eterna junto de Deus.”
   Este é o amor verdadeiro, então vamos ser bem concreto na situação que propusemos, veja, você se casou, encontrou sua namorada a algum tempo atrás, teve grandes sentimentos por ela, noivou, casou e agora você está em crise por que o sentimento sumiu.
   Mas veja só, o sentimento sempre some em tudo, porque o sentimento é algo do corpo, é algo que está ligado ao físico, veja, é claro que não estamos tratando apenas de sentimento sexual, de instinto sexual, estamos falando de afeto, o afeto está desaparecendo, mas saiba que afeto é sensação, e toda sensação é física, o afeto irá desaparecer porque o nosso corpo não é capaz de sustentar a mesma realidade o tempo todo, o nosso corpo é feito de subidas e descidas e muitas vezes é feito de um verdadeiro declive.
   Você veja, por exemplo: você come pudim pela primeira vez: “puxa vida, que coisa gostosa!” na segunda fatia não é a mesma coisa, e quando na semana seguinte você tenta reproduzir aquela mesma experiência do início você não é capaz.
   Se isso é verdade com relação ao pudim, quanto mais não será verdade em relação à experiência afetiva.
   Você se enamora pela menina, na noite em que você a conhece sai faíscas dos seus olhos, depois você namora durante um ano, e um ano depois você já vê que não é bem a mesma coisa, vocês estão no vôo da galinha, é um vôo que vai baixando de nível. Cinco anos depois você já começa a ver os defeitos dela de tal forma que você precisa fazer uma força pra sentir alguma coisa. Dez anos depois as coisas evaporaram, e o casal entra em crise, e o casal começa a se perguntar: “o que é que houve de errado?” e começam aquelas acusações: “eu não sou feliz por sua culpa!”, “eu não sou feliz e a culpa é sua!”, pois bem, saibam: isso é o roteiro, não é que isso pode acontecer, isso vai acontecer! Com toda probabilidade acontecerá, mas é ai, quando os sentimentos vão diminuindo, é ai que entra em ação o verdadeiro amor.
   O verdadeiro amor é uma aliança, uma aliança em que eu digo: “eu não desisto de você, apesar de você! Eu não sinto, mas eu amo!”, ou seja, eu dou algo de mim, veja é importante ver aqui a grande diferença entre a doação que é o amor, e um prazerzinho egoístico, se eu estou com essa pessoa porque ela me dá prazer, então na verdade, o meu casamento é uma espécie de masturbação a dois, eu vou lá porque eu sinto um prazerzinho, quando o prazer desaparece. Quando o prazer evapora, aí é que você é capaz de amar e de ter aquele amor desinteressado.
   É assim também na nossa vida espiritual, quando você se converte é um prazer rezar, você tem sensações alegres na oração, é bom está ali com Deus, de repente as sensações vão diminuindo, ai você diz: “tem alguma coisa errada, eu não estou mais sentindo Deus”, mas não tem nada de errado, é o corpo que não consegue sustentar aquelas sensações, e você, na sua vida espiritual, precisa agora ir lá à frente do sacrário e dizer: “Deus, eu não quero está aqui, eu não acho bom está aqui, mas eu estou aqui porque eu Vos amo.”
   Isso é o verdadeiro amor, é entrega, é doação, pois bem, isto deve acontecer também no seu casamento, é o momento da perseverança, é o momento da renuncia de si, é o momento em que nós notamos em que um casamento vai para frente mais por causa de Deus do que por qualquer outra coisa, se você chegou naquele momento em que você diz: “olha, eu só estou com essa pessoa por Deus.” Então você chegou ao ponto de amar.
   Onde é que acontece então o amor verdadeiro? O Amor verdadeiro acontece quando eu, esquecido de mim, dou a Deus a pessoa que eu amo, e desejo verdadeiramente que essa pessoa seja feliz em Deus. Amar uma pessoa é querer que ela um dia esteja no céu, amar uma pessoa e desejar a salvação eterna dela, esse é o verdadeiro amor, porque o amor deseja o bem, o amor perfeito deseja o sumo bem, e qual é o sumo bem? O sumo bem é ver a pessoa com Deus.
   Pois bem, eu me dou, eu me entrego, eu sou capaz de renunciar à alguma coisa para que aquela pessoa esteja mais próxima de Deus, para que aquela pessoa vá se aproximando de Deus cada vez mais, então, é ai que acontece o milagre, o milagre do amor.
   Vamos olhar, o casalzinho que acabou de se conhecer na danceteria, na boate, na balada, e o casal que está casado a cinqüenta anos, quem tem mais sentimentos? É evidente o casal que acabou de se conhecer. O casal que está casado a cinqüenta anos os sentimentos evaporaram. Mas quem tem amor? Os casais que estão a cinqüenta anos juntos, quantas e quantas vezes, quando um morre o outro morre logo em seguida porque não consegue entender a própria vida sem o outro. Ali, ali se dá o verdadeiro amor, ali se dá o amor que perseverou, em aliança eterna, mesmo quando os sentimentos evaporaram.
   Então, se os seus sentimentos evaporaram e você hoje vê que não tem mais o sentimento que tinha pela sua esposa ou pelo seu marido, é sinal de que chegou o tempo, chegou o tempo oportuno, chegou o tempo favorável, não perca essa chance, agora chegou a chance de você finalmente amá-la ou amá-lo.

domingo, 5 de agosto de 2012

Quem pergunta quer resposta (06)- Tatuagem e Piercing, existe base na Bíblia que proíba?




   Primeiro, essa mania de procurar base na Bíblia pra tudo é um mau vezo protestante, ou seja, nós podemos e devemos apreciar a Bíblia e se a Bíblia tem uma resposta direta, então, claro, nós vamos ter em alta estima essa resposta direta da Bíblia, mas a Bíblia não vai responder tudo.
   Então, nós aqui não temos que olhar tanto para a Bíblia como versículos, mas temos que olhar para a Bíblia enquanto caminho moral que ensina a Igreja por onde caminhar, e a moral da Igreja está solidamente colocada no catecismo da Igreja Católica.
   Se você for olhar no catecismo da Igreja Católica você vai notar que no comentário a respeito do quinto mandamento, não matarás, existe também o pecado de quem atenta contra o próprio corpo, ou seja, de quem faz algo que prejudica o seu corpo, como a mutilação, ou seja, algo que tira a saúde, então o “não matarás” vale também para nós mesmo.
   É baseado um pouco nessa realidade que nós podemos já falar, desde agora, daquilo que é uma cultura sadomasoquista que está sendo implantada de uma forma cada vez mais clara em nossa sociedade, deixe eu explicar pra você, antes de eu chegar lá no piercing e também na tatuagem.
   Veja, pelo pecado original a nossa forma de amar está doente, Deus nos colocou nesse mundo para nós amarmos uns aos outros, nós precisamos nos amar, e amar quer dizer, de alguma forma eu morrer pelo bem do outro, mas o pecado original fez com que se inserisse uma idolatria no nosso jeito de amar, de tal forma que o nosso jeito de amar tende a ser sempre um jeito de amar em que existe um senhor e um escravo.
   Você pode ver: quem tem namorado, namorada, casado ou também tem amigos, nas amizades também acontece isso, você pode ver que as pessoas com quem você se dá bem, de uma forma geral, você pode descrever a sua relação com aquela pessoa como uma tendência de um dominar o outro ou muitas vezes uma briga para que um domine o outro, é a coisa do senhor e escravo, e essa coisa do senhor e escravo quando a gente leva para um extremo, quando você alimenta essa serpente, ela se torna uma víbora gigante que se chama sadomasoquismo.
   O sadomasoquismo é uma forma doente de amar, onde um senhor provoca dor e mutilação no outro e um escravo sente prazer de ter um dono e de ser mutilado, pois bem, existe essa cultura na base do piercing, na base do piercing existe essa realidade de que: “eu acho erótico, eu acho sexy, eu acho interessante a mutilação, mutilar o meu corpo é legal”, e isso não pode ser sadio espiritualmente.
   Não pode ser sadio espiritualmente você profanar o seu corpo que é templo do Espírito Santo com a mutilação, porque é sexy você colocar piercing no umbigo, na orelha, na língua ou até nos órgãos genitais.
   Veja que atrás da cultura do piercing, existe uma cultura do erotismo, claro, a pessoa que põe um piercing acha aquilo sexy, agora eu pergunto: “porque é sexy a mutilação? Não existe algo de doente nisso? Não existe algo de mal em você provocar no seu corpo uma deformação?
   E ai nós podemos passar para a tatuagem, a tatuagem também, vejam, eu não vou entrar aqui num outro aspecto da tatuagem que eu acho auto-explicativo, é evidente que as tatuagens que tem temática pagã ou satanista não são cristãs, você colocar tatuagens no seu corpo de deuses pagãos, de satanás, de morcegos, caveiras e coisas que incitam para a morte e para o sadomasoquismo, é evidente isso ai já está explicado, não pode ser.
   Mas e porque não tatuar o rosto de Jesus, a cruz de Cristo, as iniciais da Virgem Maria, veja, em si mesmo, isso não é proibido, mas o problema é a cultura na qual isto se insere, a cultura na qual a tatuagem se insere é essa cultura de deformação do corpo, por isso, se nós considerássemos isoladamente o fato do piercing e o fato da tatuagem em si a coisa não nos parece que seja excessivamente má ou que tenha uma maldade em si, afinal o que é que é fazer um buraquinho na orelha, um buraco na língua, a Igreja não aceita a tantos e tantos séculos a prática das mulheres de fazer uma pequena perfuração na orelha para colocar um brinco, a Igreja aceita, então porque não aceitar um buraco maior? Existe a cultura dos povos indígenas que também fazem “piercings” por assim dizer, até muito maiores, mas a Igreja aqui ela não olha para o fato
   Eu quero que você entenda o que é um pecado, o pecado gente, não é uma coisa do corpo, o pecado é uma invenção angélica, o pecado foi inventado pelos anjos, não fomos nós seres humanos que inventamos o pecado, quem inventou o pecado foi satanás e seus demônios, portanto o pecado é uma coisa espiritual, então o problema não está no que você faz fisicamente, o problema está no que você está fazendo espiritualmente.
   Veja, pra ficar bem claro pra você o que eu estou dizendo: uma mulher e um homem que estão tendo uma relação sexual, é pecado sim ou não?
   Bom, depende, se os dois são casados e tem uma atitude espiritual de viver o sexo num compromisso, para sempre, de um amor responsável, fecundo, e vivem o sexo de forma sagrada, abençoada no Santo Matrimônio, isso não é pecado, agora o próprio Santo Agostinho nos recorda que o ato que a prostituta realiza e o ato conjugal é idêntico, e onde está a diferença?
   A diferença está no espírito, não é o corpo que peca, quem peca é a alma, e é por isso que já que é a alma que peca, você tem que entender que para dizer se um piercing é ou não pecado, e se uma tatuagem é ou não pecado você tem que olhar para atitude espiritual que está por trás.
   E o contexto espiritual do piercing e da tatuagem na cultura ocidental, que é de matriz cristã, é um contexto de revolta, isso é muito importante, é a atitude de revolta revolucionária, onde eu quebro, rompo com os parâmetros tradicionais e então apelo para um novo mundo, um novo jeito de ser, e esse novo jeito de ser que infelizmente não é muito bonito não, porque é um novo jeito de amar todo marcado pelo sadomasoquismo.
   Então o que é que é uma tatuagenzinha? Em si não é nada, mas a tatuagem está numa espécie de declive espiritual, você começa com a tatuagem, começa colocando o nome de Jesus e Maria no seu corpo, daqui a pouco você começa a venerar coisas dessa cultura sadomasoquista, destruidora que vai destruindo nossa forma de amar, cai num erotismo, vejam que o que está na moda não é fazer tatuagem de Jesus, o que está na moda é fazer tatuagens em partes eróticas, por exemplo, as mulheres colocam tatuagens em algum lugar para salientar e fazer as pessoas olharem para os seios, ou para o seu quadril, ou para algum lugar perto dos órgãos genitais, e assim vai. Os homens fazem a tatuagem para salientar os bíceps, os músculos, para salientar sua força física, existe sempre atrás disso um erotismo que caminha para a degradação da nossa forma de amar.
   Por isso não procure a moralidade ou a imoralidade de uma coisa somente no fato físico, o pecado é sempre uma realidade do espírito, o pecado é sempre algo no seu espírito.
   Porque o pecado é sempre buscar felicidade onde ela não se encontra, procurar Deus onde ele não se encontra, então é isso que vai dizer se algo é pecado ou não.
   Na tatuagem e no piercing existe uma atitude espiritual de não respeito pela ordem de Deus, a criação de Deus, a forma que Deus nos deu para amar, existe uma atitude também de profanação e dessacralização daquilo que é o templo de Deus, o seu corpo, obra maravilhosa da criação, que, lembre-se vai ressuscitar e também entrar no céu para glória de Deus por todos os séculos.